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A PSICOLOGIA/DASAS COMENTA: UMA MENSAGEM PARA AQUELES QUE TIVERAM UM PÉSSIMO DIA DAS MÃES.

Este último domingo, o segundo de maio, marca a segunda data mais importante para o comércio em geral. A saber, o Dia das Mães. Justamente por sua importância econômica, mesmo se a gente quisesse, não poderia escapar deste dia. Mas espera aí: quem alguém iria querer “escapar” um dia festivo como este? Se você iniciou a leitura só pelo título ter te chamado atenção, talvez concorde com esta pergunta. Então deixe-me elucidar que para muitos, este dia não é nada festivo. Continue lendo e descubra o porquê. Agora, se você é um desses para os quais o título não lhe causou estranheza alguma, sinto muito, mas tenho algumas coisas a te dizer também.

O Dia das Mães costuma evocar tantos sentimentos e lembranças, não é mesmo? Talvez um dia começando com um belo café na cama preparado pra mãe quando a gente ainda era criança. Os almoços especiais de domingo reunindo a família. As apresentações na escola, com a gente dançando meio com vergonha. O presente que o papai comprou e dizia que era para a gente entregar. E tantas outras boas memórias, cheias de carinho e proteção. Por isso, para muitos este dia é especial, de celebração. Mas na psicologia a gente é treinado a tratar situações envolvendo temáticas afetivas com profundidade e empatia, pois, mesmo partilhando de uma cultura comum, nossas experiências são singulares. Quanto às datas comemorativas, embora designadas à alegria, carregam consigo forte carga de expectativas, podendo ser gatilhos emocionais intensos para memórias dolorosas, como sentimentos de exclusão, saudades ou traumas não resolvidos.

Começo refletindo sobre a forma talvez mais óbvia de ser impactado negativamente por este dia, a perda e o luto. Para muitos a mãe já é falecida. A dor dessa ausência costuma ser mais sentida especialmente em datas comemorativas, períodos nos quais a alegria de famílias de margarina de peças publicitárias pululam nosso horizonte. Também nas redes sociais, muitas fotos de famílias felizes. Certo ou errado, às vezes, quando estamos sofrendo a alegria ao lado nos incomoda e faz doer mais.
Destaco ainda que a morte, apesar de nunca ter boa hora para chegar, de vez em quando parece um tanto cruel no horário de sua visita. É menos incomum do que se possa imaginar perder um parente justamente num dia festivo, como, por exemplo, a mãe no Dia das Mães.

Outra possibilidade que também traz significado distinto da maioria neste dia refere-se a relacionamentos familiares difíceis ou inexistentes. É uma perda também, ainda que de outro modo. Se por um lado muitas pessoas gozam de um laço amoroso com a mãe, com memórias afetuosas de infância e de conselhos preciosos na adolescência, chorando sua ausência quando se vão, outros tantos nunca experimentam esta ideia de relação harmoniosa e/ou acolhimento e amor incondicional. Abuso físico e psicológico, rejeição e negligência, ou até mesmo abandono, este é o real de muitos, bem distante da figura materna idealizada. Imagine-se, por exemplo, ao invés de uma lembrança boa de um café da manhã na cama com sua mãe, tivesse outra de ser xingado ainda criança por ter derrubado algo no chão. Ou, talvez, ao invés do olhar orgulhoso dela durante a apresentação escolar, um banco vazio. Para estes não é raro conviverem com certa sensação de vazio durante a vida, e, contraintuitivamente, a morte da genitora não costuma provocar alívio a suas dores.

Poderíamos pensar ainda outra categoria de situações que produza tristeza nesse dia: a frustração com algum aspecto da própria maternidade. Seja por dificuldade em se tornar uma mãe, seja pela sensação de não ser a mãe que gostaria ou crê que deveria ser, ou ainda seja por ter já passado pela experiência terrível viver mais que um filho, o Dia das Mães pode se tornar uma fonte de frustração, tristeza e até inveja e raiva. Apesar dos avanços da medicina, problemas de fertilidade e concepção sempre foram inimigos especiais da autoestima feminina, e a dor de perder um filho (em qualquer idade: por aborto, na infância ou adolescência ou na fase adulta), também é suficiente para minar o colorido da vida em muitos. A experiência de se comparar constantemente com outros, com seus pais ou consigo mesmo em momentos melhores também é uma forma rápida de tornar os dias comemorativos em momentos complicados.

Novamente, se você tenha lido este texto apenas por curiosidade do título, tente agir com empatia com as pessoas à sua volta que porventura não tenham tido experiências tão boas quanto as suas. Não “esfregue” sua felicidade na cara deles, e, se eles se abrirem com você, ouça. Com curiosidade, e sem julgamento. Mas, se você se leu porque se sentiu enquadrado em ao menos um dos exemplos, que não esgotam a matéria, aqui vão mensagens para você:

1- Sinto muito que tenha passado por isso. Ninguém deveria ter de passar por isso. Não é justo e não é sua culpa.
2- O luto é vivido de formas diferentes para cada um, tomando caminhos alternativos. Mas, caso haja alguma lembrança positiva, algum bom conselho, alguma coisa interessante, com o tempo ela aprenderá a chegar até você sem dor.
3- Eu sei que talvez, por conta de suas experiências, você tenha se fechado ou tenha dificuldades em estabelecer relacionamentos mais estáveis. Mais não desista desta área de sua vida. Para muitos, a cura interior de traumas relativos a relacionamentos perdidos ou complicados passa por estabelecer novos vínculos. Não se trata de substituir pessoas ou tapar buracos, mas em reconhecer a necessidade inata de nossa espécie em se socializar, e tentar experimentar bons encontros e boas emoções a partir disto.
4- Procure trazer à memória e homenagear com algum gesto simbólico para você mesmo a figura materna, se houver, que de fato tenha trazido algum impacto positivo para você.
5- Por fim, se desejar, estamos disponíveis para acolhê-lo(a). Se datas comemorativas não são bons dias para você, venha conversar!

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